Os primeiros dias de setembro foram muito
quentes. Os jornais noticiavam que homens e cavalos caiam mortos nos campos de
produção agrícola. Ainda assim a temperatura nunca passava de 29°C durante a
parte mais quente do dia. Qual era então a situação das pobre crianças que
estavam condenadas a trabalhar quatorze horas por dia, em uma temperatura média
de 28°C? Pode algum homem, com um coração em seu peito, e uma língua em sua
boca, não se habilitar a amaldiçoar um sistema que produz tamanha escravidão e
crueldade?
(William
Cobbett fez um artigo sobre uma visita a uma fábrica de tecidos feita em
setembro de 1824)
Pergunta: Os
acidentes acontecem mais no período final do dia?
Resposta: Eu
tenho conhecimento de mais acidentes no início do dia do que no final. Eu fui,
inclusive, testemunha de um deles. Uma criança estava trabalhando a lã, isso é,
preparando a lã para a maquina; Mas a alça o prendeu, como ele foi pego de
surpresa, acabou sendo levado para dentro do mecanismo; e nós encontramos de
seus membros em um lugar, outro acolá, e ele foi cortado em pedaços; todo o seu
corpo foi mandado para dentro e foi totalmente mutilado.
(John Allett
começou a trabalhar numa fábrica de tecidos quando tinha apenas quatorze anos.
Foi convocado a dar um depoimento ao parlamento britânico sobre as condições de
trabalho nas fábricas aos 53 anos)
Eu tive freqüentes oportunidades de
ver pessoas saindo das fábricas e ocasionalmente as atendi como pacientes. No
último verão eu visitei três fábricas de algodão com o Dr. Clough, da cidade de
Preston, e com o sr. Barker, de Manchester e nós não pudemos ficar mais do que
dez minutos na fábrica sem arfar (ficar sem ar) para respirar. Como é possível
para aquelas pessoas que ficam lá por doze ou quinze horas agüentar essa
situação? Se levarmos em conta a alta temperatura e também a contaminação do
ar; é alguma coisa que me surpreende: como os trabalhadores agüentam o
confinamento por tanto tempo.
(O Dr. Ward,
de Manchester, foi entrevistado a respeito da saúde dos trabalhadores do setor
têxtil em março de 1919)
Aproximadamente
uma semana depois de me tornar um trabalhador no moinho, fui acometido por uma
forte e pesada doença da qual poucos escapavam ao se tornarem trabalhadores nas
fábricas. A causa dessa doença, que é conhecida pelo nome de “febre dos
moinhos”, é a atmosfera contaminada produzida pela respiração de tantas pessoas
num pequeno e reduzido espaço; também pela temperatura alta e os gases exalados
pela graxa e óleo necessários para iluminar o ambiente.
(Esse
depoimento faz parte do livro “Capítulos da vida de um garoto nas fábricas de
Dundee”, de Frank Forrest)
Nosso
período regular de trabalho ia das cinco da manhã até as nove ou dez da noite.
No sábado, até as onze, às vezes meia-noite, e então éramos mandados para a
limpeza das máquinas no domingo. Não havia tempo disponível para o café da
manhã e não se podia sentar para o jantar ou qualquer tempo disponível para o
chá da tarde. Nós íamos para o moinho às cinco da manhã e trabalhávamos até as
oito ou nove horas quando vinha o nosso café, que consistia de flocos de aveia
com água, acompanhado de cebolas e bolo de aveia tudo amontoado em duas
vasilhas. Acompanhando o bolo de aveia vinha o leite. Bebíamos e comíamos com
as mãos e depois voltávamos para o trabalho sem que pudéssemos nem ao menos nos
sentar para a refeição.
(O jornal
Ashton Chronicle entrevistou John Birley em maio de 1849)
Na
primavera de 1840, eu comecei a sentir dores no meu pulso direito, essa dor
vinha da fraqueza geral de minhas juntas, o que vinha acontecendo desde minha
entrada na fábrica. A sensação de dor só aumentava. O pulso chegava a inchar
muito chegando a medir até 12 polegadas ao mesmo tempo em que meu corpo não era
mais do que ossos. Eu entrei no hospital St. Thomas no dia 18 de julho para
operar. A mão foi extraída um pouco abaixo do cotovelo. A dissecação fez com
que os ossos do antebraço passassem a ter uma curiosa aparência – algo como uma
colméia vazia – com o mel tendo desaparecido totalmente.
(William Dodd
escreveu sobre sua situação como criança trabalhadora acidentada no trabalho em
seu panfleto “Narrativa de uma criança aleijada” no ano de 1841)
Quando
eu tinha sete anos de idade fui trabalhar na fábrica do Sr. Marshall em
Shrewsbury. Se uma criança se mostrasse sonolenta o responsável pelo turno a
chamava e dizia, “venha aqui”. Num canto da sala havia uma cisterna de ferro
cheia de água. Ele pegava a criança pelas pernas e a mergulhava na cisterna
para depois manda-la de volta ao trabalho.
(Jonathan
Downe foi entrevistado por um representante do parlamento britânico em junho de
1832)
Eu
trabalhava das cinco da manhã até as nove da noite. Eu vivia a duas milhas do
moinho. Nós não tínhamos relógio. Se eu chegasse atrasado ao moinho eu seria
punido com descontos em meu pagamento. Eu quero dizer com isso que se chegasse
quinze minutos atrasado, meia hora de meu pagamento seria retirado. Eu só
ganhava um penny por hora, e eles iriam tirar metade disso.
(Elizabeth
Bentley foi entrevistada por representantes do parlamento britânico em junho de
1832)
A
tarefa que inicialmente foi dada a Robert Blincoe era a de pegar o algodão que
caía no chão. Aparentemente nada poderia ser mais fácil... Mesmo assim ele
ficava apavorado pelo movimento das máquinas e pelo barulho dos motores. Ele
também não gostava da poeira e do cano que soltava fumaça, pois acabava se
sentindo sufocado. Ele logo ficou doente e em virtude disso constantemente
parava de trabalhar porque suas costas doíam. Isso motivou Blincoe a se sentar;
mas essa atitude, ele logo descobriu, era proibida nos moinhos.
(As
experiências vividas por John Brown numa fábrica de tecidos foram publicadas
num artigo do jornal The Lion)
São
constantes as informações sobre crianças que trabalham em fábricas e que são
cruelmente agredidas pelos supervisores a ponto de seus membros se tornarem
distorcidos pelo constante ficar de pé e curvar-se (para apanhar). Por isso
eles crescem e se tornam aleijados. Eles são obrigados a trabalhar treze,
quatorze ou até quinze horas por dia.
(Trecho do
livro “A História da produção de algodão”, de Edward Baines)
Obs.: Os depoimentos e trechos de livros ou jornais reproduzidos nesse
artigo foram obtidos no site educacional Spartacus, da Inglaterra.
Fonte:
http://www.planetaeducacao.com.br/portal/artigo.asp?artigo=504